domingo, 28 de dezembro de 2014

Viagem no tempo: de um visionário





Em 1964, a Feira de Ciências e Tecnologia - realizada nos Estados Unidos - apresentou ao mundo os mais recentes avanços e projetos. Apesar do tema oficial da feira, que durou seis meses, ser “a paz por meio da compreensão”, o evento é lembrado pela visão futurista arrojada e criativa, um vislumbre da evolução humana que estava por vir.
Arthur C. Clarke (1917-2008) já era respeitado como cientista cuja área de especialização era a comunicação. Sua trajetória foi respeitável. Durante a Segunda Guerra Mundial, serviu na Royal Air Force como especialista em radares, envolvendo-se no desenvolvimento de um sistema de defesa por radar, sendo uma peça importante do êxito na batalha da Inglaterra. Depois, estudou Física e Matemática no King’s College de Londres. Foi um dos fundadores da British Interplanetary Society que presidiu durante dois períodos. Nessa época escreveu Interplanetary Flight (1950) e The Exploration of Space (1951), obras fundamentais de divulgação dos voos espaciais, mas a sua contribuição de maior importância foi a concepção do satélite de telecomunicação. Em outubro de 1945, Clarke publicou na revista inglesa Wireless World, um artigo no qual estabelecia que os satélites artificiais poderiam se usados como relays – estações de repetição – para comunicação entre diversos pontos na superfície terrestre. Até então nenhum satélite artificial tinha sido lançado, o que iria ocorrer somente em 1957.
Em seu ensaio, Clarke previu que um dia a comunicação ao redor do mundo seria factível por intermédio de uma rede de três satélites geoestacionários que, além de estarem situados a uma altura de cerca de 36 000 km e espaçados entre si por intervalos iguais, circulariam no plano do equador terrestre.
Aproximadamente duas décadas mais tarde, em 1964, Syncom 3 se tornou o primeiro satélite geoestacionário a satisfazer a previsão de Clarke. Nesse mesmo ano, o Syncom 3 foi usado para cobrir os jogos Olímpicos de Tóquio, quando foi possível acompanhar todos os jogos em tempo real nos Estados Unidos – esta foi a primeira transmissão de televisão a atravessar o Oceano Pacífico. Agora, existem centenas de satélites em órbita permitindo a comunicação de milhões de indivíduos ao redor do globo terrestre.
Em 1954, Clarke propôs que os satélites fossem utilizados na meteorologia. Hoje não podemos imaginar a previsão do tempo sem os satélites meteorológicos.
Olhando para trás em relação a estes desenvolvimentos, em “How the World Was One – Beyond the Global Village” (1992), Clarke escreveu: “Às vezes, receio que o povo na Terra deixe de considerar a verdadeira importância das estações espaciais, esquecendo a competência, a ciência e a coragem daqueles que as tornaram realidade. Com que frequência você faz uma pausa para pensar que todas as nossas chamadas telefônicas de longa distância e a maioria dos nossos programas de televisão são transmitidos através de um ou outro satélite? E com que frequência você dá todo crédito aos meteorologistas pelo fato de que as previsões do tempo não são mais uma piada como foram para os nossos avós, mas com acerto por vezes de 99%?”
Com Carl Sagan, Paul Newman e Isaac Asimov, Clarke participou da criação da Planetary Society – entidade direcionada para a exploração do espaço, com associados em todo o mundo – que, além de editar uma revista bimestral – Planetary Report –, estimula doações aos programas espaciais que, com esse objetivo, vêm realizando pesquisas na procura de sinais de vida extraterrestre.
Em reconhecimento, o asteróide 4923 foi batizado com o nome de Clarke, assim como uma espécie de dinossauro Ceratopsiano, o Serendipaceratops arthurclarkei, descoberto em Inverloch, Austrália.
Igualmente famoso como escritor de ficção, uma de suas obras mais conhecidas foi 2001: Uma Odisseia no Espaço, adaptada para o cinema por Stanley Kubrick em 1968 e  é cultuada até hoje.
Arthur C. Clarke traduziu a grandiosidade das descobertas espaciais na frase dirigida aos membros da Bristish Interplanetary Society, Londres, 1946, e que mais tarde reproduziu no “The Challenge of the Spaceships”, (New York, Harper and Row, 1955): “Nossa civilização não é mais do que a soma de todos os sonhos das idades anteriores. E tem que ser assim, pois se os homens deixarem de sonhar, se voltarem as costas às maravilhas do universo, acabará a história da nossa raça”.
Durante a feira em Nova York, foi entrevistado  e convidado a fazer previsões de como seria o mundo 50 anos depois, ou seja, em 2014. Arthur assumiu os riscos e, com ironia e competência,  demonstrou uma acurada percepção do comportamento humano, formulando conjecturas que acabaram por se concretizar ou estão muito próximas de nossa realidade. Genial! 

 






Fonte da imagem: Google
Fonte da pesquisa: www.eco21.com.br
                                   http://semena.com 




Por Aline Andra



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