“Carlinhos" – Óleo sobre
tela
Aline Andra
Quando for grande,
não quero ser médico, engenheiro ou professor.
Não quero trabalhar
de manhã à noite, seja no que for.
Quero brincar de
manhã à noite, seja com o que for.
Quando for grande,
quero ser um brincador.
Ficam, portanto, a
saber: não vou para a escola aprender a ser um médico, um engenheiro ou um
professor.
Tenho mais em que
pensar e muito mais que fazer.
Tenho tanto que
brincar, como brinca um brincador, muito mais o que sonhar, como sonha um
sonhador, e também que imaginar, como imagina um imaginador…
A mãe diz que não
pode ser, que não é profissão de gente crescida. E depois acrescenta, a
suspirar: “é assim a vida”. Custa tanto a acreditar. Pessoas que são capazes,
que um dia também foram raparigas e rapazes, mas já não podem brincar.
A vida é assim? Não
para mim. Quando for grande, quero ser brincador. Brincar e crescer, crescer e
brincar, até a morte vir bater à minha porta. Depois também, sardanisca verde
que continua a rabiar mesmo depois de morta. Na minha sepultura, vão escrever:
“Aqui jaz um brincador. Era um homem simples e dedicado, muito dado, que se
levantava cedo todas as manhãs para ir brincar com as palavras.»
Álvaro
Magalhães
Por Aline Andra
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