domingo, 12 de outubro de 2014

O Nobel pelos direitos das crianças





O comitê organizador do prêmio anunciou na última sexta-feira (10 de outubro): os ganhadores do Nobel da Paz foram o indiano Kailash Satyarthi e a paquistanesa Malala Yousafzai “pela sua luta contra a supressão das crianças e jovens e pelo direito de todos à educação.”




  

 


Kailash, 60 anos, é um ativista praticamente desde a infância  – aos 11 anos andava a recolher livros escolares usados para os distribuir a crianças que não tinham dinheiro para ir à escola.
Abandonou a carreira de engenheiro eletricista em 1980 e passou a fazer campanha contra o trabalho infantil, liderando numerosas manifestações de protesto, que seguem o modelo pacifista de Mahatma Gandhi, contra a exploração de crianças além de contribuir para o desenvolvimento de importantes convenções internacionais sobre o direito da criança. Sua organização, Bachpan Bachao Andolan ou Movimento Salve a Infância, já resgatou mais de 80 mil  vítimas de maus tratos, tráfico ou exploração laboral – muitas eram de fato escravas, usadas para pagar as dívidas dos pais (uma prática proibida por uma lei de 1975, que dificilmente é aplicada por falta de vigilância). O número é respeitável, mas ainda há muito por fazer. Segundo as estimativas de algumas organizações humanitárias, 135 mil crianças indianas desapareceram só no ano passado; os dados oficiais apontam para um número muitíssimo inferior: 26 mil (!).
Seu trabalho já havia sido destacado com várias premiações, como o Prêmio Internacional de Direitos Humanos do Centro Robert F. Kennedy, dos Estados Unidos; o Prêmio Internacional Direitos Humanos Fredric Ebert, da Alemanha; e o Prêmio Internacional Alfonso Comin, da Espanha.
A organização de Satyarthi realiza batidas em oficinas e fábricas onde é usada mão de obra infantil, em algumas ocasiões sem informar à polícia o lugar exato para evitar que avisem aos criminosos.
Foi responsável por criar o selo Rugmark que certifica que os tapetes indianos vendidos no exterior não foram fabricados com mão de obra infantil. A luta deste ativista também ultrapassou as fronteiras indianas e ele ajudou a fundar a Marcha Global contra o Trabalho Infantil.
"Lembro que quando comecei a lutar contra a exploração infantil há mais de 20 anos, o número global chegava a 250 milhões de crianças e caiu para os 168 milhões. As crianças escravas perdem toda sua infância, aspirações, futuro, oportunidades, educação e, o mais importante, sua liberdade ", advertiu em recente entrevista.
"O crescimento e a economia de mercado não podem prosperar respaldando a escravidão e o tráfico infantil. Não podemos fazer este mundo melhor, mais pacífico e apto para viver tendo o peso da escravidão infantil não nas costas, mas bem na sua frente", reivindicou.





 
 
 
 Malala, 17 anos, tornou-se a mais jovem ganhadora do prêmio, superando o cientista australiano-britânico Lawrence Bragg, que compartilhou o Nobel de Física com o pai, em 1915, aos 25 anos.
Ela tornou-se conhecida no mundo inteiro após ser baleada na cabeça pelos talibãs ao sair da escola, quando tinha apenas 15 anos, por estar se destacando entre as mulheres e lutando pela educação de meninas e adolescentes no Paquistão.
Em 2008, o líder talibã local emitiu uma determinação exigindo que todas as escolas interrompessem as aulas dadas às meninas por um mês. Na época, ela tinha 11 anos. Seu pai, que era dono da escola e sempre incentivou sua educação, pediu ajuda aos militares locais para permanecer dando aulas às meninas. Entretanto, a situação era tensa.
Naquela época, um jornalista local da BBC perguntou ao pai de Malala se alguns jovens estariam dispostos a falar sobre sua visão do problema. Foi quando a menina começou a escrever um blog, "Diário de uma Estudante Paquistanesa", no qual falava sobre sua paixão pelos estudos e as dificuldades enfrentadas no Paquistão sob o domínio do talibã.O blog era escrito sob um pseudônimo, mas logo se tornou conhecido. E Malala não tinha receios em falar em público sobre sua defesa da educação feminina.
Os posts para a BBC duraram apenas alguns meses, mas deram notoriedade à menina. Ela deu entrevistas a diversos canais de TV e jornais, participou de um documentário e foi indicada ao Prêmio Internacional da Paz da Infância em 2011. Na época, ela não ganhou – mas foi laureada com o mesmo prêmio em 2013.
A família de Malala sabia dos riscos – mas eles imaginavam que caso houvesse um ataque, o alvo seria o pai da menina, Ziauddin Yousafzai, um ativista educacional conhecido na região. Quando houve o ataque, a situação já estava mais calma – os talibãs já haviam perdido o controle do Vale do Swat para o exército, em 2009. Por isso, o tiro levado pela menina foi ainda mais chocante. A jovem superou o ocorrido depois de passar por duas cirurgias na Inglaterra e ser mantida em coma induzido por dez dias. Surpreendentemente não houve sequelas e ela permanece vivendo em Birmingham com sua família por ainda estar sofrendo ameaças.
Seu primeiro pronunciamento público ocorreu nove meses após o ataque, quando fez um discurso na Assembleia de Jovens da ONU. Na ocasião, ela reforçou que não será silenciada por ameaças terroristas. "Eles pensaram que a bala iria nos silenciar, mas eles falharam", disse em um discurso no qual pediu mais esforços globais para permitir que as crianças tenham acesso a escolas. "Nossos livros e nossos lápis são nossas melhores armas", disse ela na oportunidade. "A educação é a única solução, a educação em primeiro lugar".
"Os terroristas pensaram que eles mudariam meus objetivos e interromperiam minhas ambições, mas nada mudou na vida, com exceção disto: fraqueza, medo e falta de esperança morreram. Força, coragem e fervor nasceram", completou.
"Vou ser política no futuro. Quero mudar o futuro do meu país e quero que a educação seja obrigatória", disse a jovem.









 



Fonte das imagens e pesquisa: Google

                                                        www.nobelprize.org
                                                        www.kailashsathyarthi.net
                                                        http://exame.abril.com.br








 


  Por Aline Andra
 



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