sábado, 26 de outubro de 2013

A experiência (Das experiment)







Ano: 2001 (Alemanha)
Diretor: Oliver Hirschbiegel
Atores: Moritz Bleibtreu, Christian Berkel, Oliver Stokowski, Edgar Selge, Andrea Sawatzki, Justus von Dohnanyi, Maren Eggert

 
Uma experiência psicológica verdadeira realizada em 1971 causou muito constrangimento e polêmica sobre os parâmetros éticos no mundo científico.
 Liderado pelo professor Phillip Zimbardo, da Universidade de Stanford, o projeto conhecido como o “Experimento da prisão de Stanford”, visava investigar o comportamento humano quando os indivíduos são definidos apenas pelo grupo ao qual pertencem. Em uma prisão simulada, reproduzida no porão do Instituto de Psicologia da Universidade, os pesquisadores pretendiam analisar e provar a “Teoria da desindividualização”, que argumenta que pessoas em um grupo coeso e submetidas a certas situações padronizadas de pressão e desconforto, tendem a perder sua identidade pessoal, senso de responsabilidade e consciência, propiciando o aparecimento de impulsos agressivos e antissociais. Voluntários foram selecionados através de testes psicológicos e aceitaram participar da simulação durante 14 dias. Divididos em grupos de “guardas” e “prisioneiros”, submeteram-se às condições e regras inerentes aos papéis que, aos poucos, foram assumindo integralmente. No 6º dia, situações dramáticas de conflito já estavam estabelecidas: prepotência e sadismo por parte dos que detinham o poder, depressão e submissão por parte dos detidos. Antes que o experimento saísse totalmente do controle, foi interrompido.
 
“Dentro de cada um de nós há um conformista e um totalitário e não é preciso muito mais do que o uniforme certo para que ele venha à tona."
 
 
O filme “A Experiência” extrapola o que aconteceu na vida real e, embora usando de alguns recursos cinematográficos corriqueiros, alcança o objetivo de provocar espanto e reflexão.
No começo da simulação, que também deveria durar 14 dias, as regras são claramente explicadas pelos pesquisadores (principalmente a que estabelece a proibição de violência sob pena de expulsão). Os voluntários são pessoas comuns com suas carências, desejos e necessidades e aceitaram participar do experimento principalmente por causa do dinheiro oferecido. A princípio, consideram que tudo poderá ser encarado como um jogo ou um divertimento sem maiores consequências. O ambiente é totalmente controlado e vigiado e as diferenças são imediatamente estabelecidas entre os grupos através do uso de uniformes e imposições que visam reforçar a autoridade dos guardas e a despersonalização dos prisioneiros como, por exemplo, o uso de números de identificação em vez dos nomes.
Logo nos primeiros dias, dois personagens se destacam por suas personalidades: o guarda Berus (Justus von Dohnanyi), que vai se empolgando com o papel de líder de seu grupo e com o poder que descobre ser possível exercer e o preso Tarek Fahd (Moritz Bleibtreu, um dos atuais destaques do cinema alemão), jornalista que, com uma câmera disfarçada, está atrás de uma boa história e cria propositalmente situações de antagonismo.
Os prisioneiros sofrem e aceitam tratamentos humilhantes e despóticos dos guardas e começam a apresentar distúrbios emocionais. Os chefes da equipe de pesquisadores, Dr. Klaus Thon (Edgar Selge) e Dra. Jutta Grimm (Andrea Sawatzki), decidem não interferir para não comprometer o resultado do trabalho inédito (“tudo pela ciência”) e com tal atitude, praticamente dão aos guardas a permissão para se tornarem cada vez mais abusivos.
A experiência foge totalmente ao controle quando os presos se revoltam e os guardas tomam como reféns os pesquisadores para poderem obter vantagem no controle do motim.
É claro que não vou contar o desfecho que, na verdade, torna-se irrelevante frente ao que se tenta demonstrar: a violência é intrínseca à condição humana, tem muitas faces e a forma de combatê-la depende do comprometimento de cada indivíduo com suas regras e valores internalizados.
Um tipo de filme que não permite a indiferença.


 

 
 
 
 

Por Aline Andra
 
 
 
 

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