Ano: 2001 (Alemanha)
Diretor: Oliver
HirschbiegelAtores: Moritz Bleibtreu, Christian Berkel, Oliver Stokowski, Edgar Selge, Andrea Sawatzki, Justus von Dohnanyi, Maren Eggert
Uma experiência
psicológica verdadeira realizada em 1971 causou muito constrangimento e
polêmica sobre os parâmetros éticos no mundo científico.
Liderado pelo professor Phillip Zimbardo, da
Universidade de Stanford, o projeto conhecido como o “Experimento da prisão de
Stanford”, visava investigar o comportamento humano quando os indivíduos são
definidos apenas pelo grupo ao qual pertencem. Em uma prisão simulada,
reproduzida no porão do Instituto de Psicologia da Universidade, os pesquisadores
pretendiam analisar e provar a “Teoria da desindividualização”, que argumenta
que pessoas em um grupo coeso e submetidas a certas situações padronizadas
de pressão e desconforto, tendem a perder sua identidade pessoal, senso de
responsabilidade e consciência, propiciando o aparecimento de impulsos
agressivos e antissociais. Voluntários foram selecionados através de
testes psicológicos e aceitaram participar da simulação durante 14 dias.
Divididos em grupos de “guardas” e “prisioneiros”, submeteram-se às condições e
regras inerentes aos papéis que, aos poucos, foram assumindo integralmente. No
6º dia, situações dramáticas de conflito já estavam estabelecidas: prepotência
e sadismo por parte dos que detinham o poder, depressão e submissão por parte
dos detidos. Antes que o experimento saísse totalmente do controle, foi
interrompido.
“Dentro de cada um de nós há um conformista e um
totalitário e não é preciso muito mais do que o uniforme certo para que ele
venha à tona."
O filme “A
Experiência” extrapola o que aconteceu na vida real e, embora usando de alguns
recursos cinematográficos corriqueiros, alcança o objetivo de provocar espanto
e reflexão.
No começo da
simulação, que também deveria durar 14 dias, as regras são claramente
explicadas pelos pesquisadores (principalmente a que estabelece a proibição de
violência sob pena de expulsão). Os voluntários são pessoas comuns com suas
carências, desejos e necessidades e aceitaram participar do experimento principalmente
por causa do dinheiro oferecido. A princípio, consideram que tudo poderá ser
encarado como um jogo ou um divertimento sem maiores consequências. O ambiente
é totalmente controlado e vigiado e as diferenças são imediatamente
estabelecidas entre os grupos através do uso de uniformes e imposições que
visam reforçar a autoridade dos guardas e a despersonalização dos prisioneiros
como, por exemplo, o uso de números de identificação em vez dos nomes.
Logo nos primeiros
dias, dois personagens se destacam por suas personalidades: o guarda Berus
(Justus von Dohnanyi), que vai se empolgando com o papel de líder de seu grupo
e com o poder que descobre ser possível exercer e o preso Tarek Fahd (Moritz
Bleibtreu, um dos atuais destaques do cinema alemão), jornalista que, com uma
câmera disfarçada, está atrás de uma boa história e cria propositalmente
situações de antagonismo.
Os prisioneiros
sofrem e aceitam tratamentos humilhantes e despóticos dos guardas e começam a
apresentar distúrbios emocionais. Os chefes da equipe de pesquisadores, Dr.
Klaus Thon (Edgar Selge) e Dra. Jutta Grimm (Andrea Sawatzki), decidem não
interferir para não comprometer o resultado do trabalho inédito (“tudo pela
ciência”) e com tal atitude, praticamente dão aos guardas a permissão para se
tornarem cada vez mais abusivos.
A experiência foge
totalmente ao controle quando os presos se revoltam e os guardas tomam como
reféns os pesquisadores para poderem obter vantagem no controle do motim.
É claro que não vou
contar o desfecho que, na verdade, torna-se irrelevante frente ao que se tenta
demonstrar: a violência é intrínseca à condição humana, tem muitas faces e a
forma de combatê-la depende do comprometimento de cada indivíduo com suas
regras e valores internalizados.
Um tipo de filme que não permite a indiferença.
Por Aline Andra
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