Fonte: http://anto8d.tumblr.com
Um trecho de uma
palestra de Neil Gaiman, escritor inglês, sobre a importância das bibliotecas e
sobre a necessidade de preservação do hábito da leitura como instrumento para
um futuro melhor.
"Eu acho que nós
temos responsabilidades para com o futuro. Responsabilidades e obrigações com
as crianças, com os adultos nos quais aquelas crianças vão se transformar, com
o mundo aonde eles vão se encontrar habitando. Todos nós – como leitores, como
escritores, como cidadãos – têm obrigações. Pensei em tentar explicitar algumas
dessas obrigações aqui.
Acredito que temos a
obrigação de ler por prazer, em privado e em lugares públicos. Se lermos por
prazer, se os outros nos veem ler, então nós aprendemos, nós exercitamos a
nossa imaginação. Nós mostramos aos outros que a leitura é uma coisa boa.
Temos a obrigação de
apoiar bibliotecas. De usar bibliotecas, de incentivar outras pessoas a usarem
as bibliotecas, de protestar contra o fechamento de bibliotecas. Se você não
valoriza as bibliotecas, então você desvaloriza informação ou cultura ou
sabedoria. Você está silenciando as vozes do passado e você está prejudicando o
futuro.
Temos a obrigação de
ler em voz alta para os nossos filhos. De ler para eles coisas que eles gostam.
De ler para eles histórias das quais já estamos cansados. De fazer as vozes
para tornar interessante, e não de parar de ler para eles apenas porque eles
aprendem a ler para si mesmos. Use o tempo de leitura em voz alta como um
momento de ligação, como o tempo em que não há telefones sendo verificados, em
que as distrações do mundo são postas de lado.
Temos a obrigação de
usar a língua. Para nos empurrar: para descobrir o que as palavras significam e
como implantá-las, para nos comunicarmos de forma clara, e dizer o que queremos
dizer. Não devemos tentar congelar a linguagem, ou fingir que é uma coisa morta,
que deve ser respeitada, mas devemos usá-lo como uma coisa viva, que flui, que
empresta palavras, que permite aos significados e às pronúncias mudar com o
tempo.
Nós, escritores – e,
especialmente escritores para crianças, mas todos os escritores – temos uma
obrigação com nossos leitores: é a obrigação de escrever coisas verdadeiras,
especialmente importante quando estamos criando contos de pessoas que não
existem em lugares que nunca existiram – a entender que verdade não está no que
acontece, mas o que ela nos diz sobre quem somos. A ficção é a mentira que diz
a verdade, afinal de contas. Temos a obrigação de não entediar os nossos
leitores, mas fazê-los precisarem virar as páginas. Uma das melhores curas para
um leitor relutante, afinal, é um conto cuja leitura não pode ser interrompida.
E enquanto dizemos aos nossos leitores coisas verdadeiras e damos a eles armas
e armadura e passagem para qualquer sabedoria adquirida a partir de nossa curta
estadia neste mundo verde, temos a obrigação de não pregar, não ensinar, não
forçar mensagens morais pré-digeridas goela abaixo dos nossos leitores, como
aves adultas que alimentam seus bebês com larvas pré-mastigadas, e nós temos a
obrigação de nunca, jamais, em hipótese alguma, escrever alguma coisa para as
crianças que nós mesmos não gostaríamos de ler.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário