Têm para mim
Chamados de outro mundo
as Noites perigosas e queimadas,quando a Lua aparece mais vermelha.
São turvos sonhos, Mágoas proibidas,
são Ouropéis antigos e fantasmas
que, nesse Mundo vivo e mais ardente
consumam tudo o que desejo Aqui.
Será que mais Alguém vê e escuta?
Sinto o roçar das
asas Amarelas
e escuto essas Canções encantatóriasque tento, em vão, de mim desapossar.
Diluídos na velha
Luz da lua,
a Quem dirigem seus terríveis cantos?
Pressinto um
murmuroso esvoejar:
passaram-me por cima da cabeçae, como um Halo escuso, te envolveram.
Eis-te no fogo, como um Fruto ardente,
a ventania me agitando em torno
esse cheiro que sai de teus cabelos.
Que vale a natureza
sem teus Olhos,
ó Aquela por quem meu Sangue pulsa?
Da terra sai um
cheiro bom de vida
e nossos pés a Ela estão ligados.Deixa que teu cabelo, solto ao vento,
abrase fundamente as minhas mãos…
Mas, não: a luz
Escura inda te envolve,
o vento encrespa as Águas dos dois riose continua a ronda, o Som do fogo.
Ó meu amor, por que te ligo à Morte?
Ariano Suassuna (16 de junho de 1927-23 de julho de 2014)
A “Caetana”- como é
chamada a morte no sertão da Paraíba e Pernambuco - veio buscar o Grande Ariano.
Escritor, dramaturgo, poeta, professor, advogado, acadêmico, idealizador do Movimento
Armorial (cujo objetivo é criar arte erudita a partir de elementos da cultura
popular nordestina) e provavelmente muito mais se tempo houvesse, ele foi um
dos que lutaram bravamente a favor de uma cultura genuinamente brasileira.
Ariano já foi chamado de “Dom Quixote arcaico”, por viver esgrimindo contra os
moinhos de vento da globalização. Não se incomodou. Por que o faria? Foi capaz
de construir uma literatura épica, incomum e absolutamente valorosa.
E se ao chegar,
curioso e festejado, nesse outro mundo cheio de novos desafios, alguém
perguntou “Como foi? Conta para mim!”, ele talvez tenha respondido, à moda de Chicó
do Auto da Compadecida:
-”Não sei. Só sei
que foi assim!”
Por Aline Andra
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