Estive à procura de
um lugar para chamar de meu. Um território neutro para estar com meu amado, sem
erros ou demandas. Sozinhos como sempre deveria ter sido. Sozinha como sempre
foi minha condição ideal de estar.
Vi o anúncio numa
loja de nossa rua, em pequeno e descompromissado pedaço de papel: “Alugam-se
quartos”. Pensando tratar-se de pessoa que também aluga apartamentos para
estudantes – espaços funcionais, geralmente meio detonados pela urgência de
todos os jovens e por isso mais facilitados -, telefonei. Atendeu-me
uma voz jovem e absolutamente comedida que me disse estar a alugar a casa
inteira a quem a desejasse. Desejei.
O dono da casa,
cabelos brancos e franco olhar de azul transparência, recebeu-nos no portão, acompanhado
de enorme cachorro de pelo negro, dentes arreganhados de falsa grosseria e
dulcíssimos olhos cor de mel.
Guiados por estreito
caminho, com cores e folhas batendo no meu rosto, já alertada para algo que se
adensava como uma boa surpresa, ela surgiu. E ali mesmo, me explodiu a certeza
e um ataque de pânico, pois soube de imediato que não haveria volta. Lá
ficaria. Naquele sobrado branco, de antigas janelas de madeira pintadas de
verde. Uma casa simples, mas com nobreza e muitas estórias para contar.
Na frente, um jardim
enriquecido por enorme jabuticabeira coberta de frutos, muitas flores e espaço
sobrando para mais. Um oásis perfeito de paz e silêncio a alguns minutos de uma
das ruas mais movimentadas da cidade.
A burocracia e um
advogado renitente e escandalizado com as parcas comprovações de minhas boas
intenções (escolher viver sem muitas amarras tem um preço), tornaram a
conquista dela mais difícil. O proprietário, eu desconfio, um "estrangeiro" em um
mundo que exige cautela e precaução, escolheu não correr riscos.
Mas, como muitas
vezes se comprova, estava escrito.
Sinto que a casa estava
à minha espera e um sentimento de pertencimento me invade, apesar de saber que
ela não é minha e terá prazo de validade. Durante o tempo que nos couber e por
boa parte do dia, seremos somente nós duas a proteger e cuidar uma da outra.
Não tenho medo de
seus fantasmas, caso lá habitem. Eles não arrastam correntes como muitos dos
vivos que tive o desprazer de conviver até agora. Acima de tudo, acho que perderei o medo dos pensamentos escuros e ermos que me assombram.
Haverá tanto por
fazer e aprender que a vida se afigura como um recomeço, um descobrimento da
terra prometida. Estaremos bem.
Para você, nesse novo
ano que se aproxima, eu desejo o melhor que posso imaginar. Mas, sobretudo,
desejo que também descubra o seu oásis, dentro de si mesmo ou sobre a terra. Afinal, a
diferença pode ser tênue...
Por Aline
Andra