sábado, 27 de abril de 2013

Almost Blue - Chet Baker



 
 
 Chesney Henry "Chet" Baker Jr (1929-1988), trompetista e cantor de jazz norte-americano não tardou a conquistar o sucesso, sendo apontado como um dos melhores músicos do gênero logo em seu primeiro disco.
Contemporâneo de Stan Getz, Charlie Parker (“Bird”), Gerry Mulligan, Dizzy Gillespie, Herbie Hancock e outros grandes nomes do jazz, Chet Baker buscou tanto o virtuosismo quanto a sensibilidade na interpretação. Avesso às partituras e inaugurando um modo de cantar no qual a voz era quase sussurrada, Chet improvisava com sentimento.
Infelizmente, seu declínio foi um dos mais pungentes da história da música. Sua vida foi trágica e comprometida pelo uso abusivo das drogas e as circunstâncias de sua morte – acidente ou suicídio ao despencar da janela de um hotel em Amsterdã aos 58 anos – mais tristes ainda, mas isso não desmerece a lembrança de um músico que foi a quintessência do cool jazz e, sobretudo, de um ser humano que possuía “a chama”.
Gosto especialmente de sua versão de “Time after time”, mas porque é quase madrugada de domingo, a lua está linda e o jardim está tão perfumado...
 
"Quase triste"...


 
 
 
 
 
Fonte da imagem: Google
Fontes da pesquisa: http://chetbakertribute.com
                                    http://pt.wikipedia.org/wiki/Chet_Baker



Por Aline Andra
 

quarta-feira, 24 de abril de 2013

A mulher madura - Affonso Romano de Sant'Anna





 
 
"O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos.
De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs. Vezes outras a entrevejo no espelho de uma joalheria. A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimé.
Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda.
A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo.
A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.
A adolescente, com o brilho de seus cabelos, com essa irradiação que vem dos dentes e dos olhos, nos extasia. Mas a mulher madura tem um som de adágio em suas formas. E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo e a sutileza de um oboé sobre a campina do leito.
A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos. Por isto as suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.
O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície. Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos, apalpa suas mensagens, decodifica as ameaças numa intimidade respeitosa.
Sei que falo de uma certa mulher madura localizada numa classe social, e os mais politizados têm que ter condescendência e me entender. A maturidade também vem à mulher pobre, mas vem com tal violência que o verde se perverte e sobre os casebres e corpos tudo se reveste de uma marrom tristeza.
Na verdade, talvez a mulher madura não se saiba assim inteira ante seu olho interior. Talvez a sua aura se inscreva melhor no olho exterior, que a maturidade é também algo que o outro nos confere, complementarmente. Maturidade é essa coisa dupla: um jogo de espelhos revelador.
Cada idade tem seu esplendor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago de juventude, um brilho de raquetes e pernas sobre as praias do tempo. Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo.
A mulher madura está pronta para algo definitivo.
Merece, por exemplo, sentar-se naquela praça de Siena à tarde acompanhando com o complacente olhar o voo das andorinhas e as crianças a brincar. A mulher madura tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia. Descolou-se da superfície das coisas. Merece profundidades. Por isto, pode-se dizer que a mulher madura não ostenta joias. As joias brotaram de seu tronco, incorporaram-se naturalmente ao seu rosto, como se fossem prendas do tempo.
A mulher madura é um ser luminoso, é repousante às quatro horas da tarde, quando as sereias se banham e saem discretamente perfumadas com seus filhos pelos parques do dia. Pena que seu marido não note, perdido que está nos escritórios e mesquinhas ações nos múltiplos mercados dos gestos. Ele não sabe, mas deveria voltar para casa tão maduro quanto Yves Montand e Paul Newman, quando nos seus filmes.
Sobretudo, o primeiro namorado ou o primeiro marido não sabem o que perderam em não esperá-la madurar. Ali está uma mulher madura, mais que nunca pronta para quem a souber amar."


(O texto acima foi extraído do livro "A Mulher Madura", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1986, pág. 09.)
 
 
 
 
SOBRE O AUTOR:
 
Affonso Romano de Sant'Anna nasceu em Belo Horizonte (MG) em 1937. Filho de pais protestantes, foi criado para ser pastor. Aos 17 anos, pregava o evangelho em várias cidades, visitava favelas, prisões e hospitais. Essa experiência vai influenciar seu futuro estilo literário que se caracteriza por um forte conteúdo social. 
Formou-se bacharel em Letras Neolatinas na Faculdade de Filosofia da UFMG em 1962. Dois anos depois, tornou-se doutor em Literatura Brasileira com tese sobre Carlos Drummond de Andrade  (Drummond, o gauche no tempo) que mereceu quatro prêmios nacionais. No ano seguinte, teve publicado seu primeiro livro de poesia, Canto e Palavra. Desde então, colaborou nas principais publicações culturais do país; foi diretor do Departamento de Letras e Artes da PUC/RJ; lecionou em universidades do Texas (EUA), Colônia (Alemanha) e Aix-en-Provence (França); foi presidente da Fundação Biblioteca Nacional - 8ª biblioteca do mundo com um acervo de 8 milhões de volumes - promovendo modernização, informatização e programas de alcance nacional e internacional. Vale  lembrar que foi ele o idealizador  do projeto "Uma biblioteca em cada município", que contou com mais de 30 mil voluntários e estabeleceu-se em 300 municípios do Brasil.
Teve também participação ativa nos movimentos de vanguarda que transformaram a poesia brasileira. Data desse período seu envolvimento nos movimentos políticos que marcaram o país. Como poeta e cronista, foi considerado um dos 10 jornalistas formadores de opinião por desempenhar atividades no campo político e social. 
Além disso, seu interesse pela Música o levou a fazer parte do "Madrigal Renascentista", na época, regido pelo maestro Isaac Karabtchevsky.   
Com mais de 40 livros publicados e diversos textos convertidos em balé, teatro e música, ganhou inúmeros prêmios e comendas nacionais e internacionais.
Um intelectual do 1º escalão, que se destaca por conseguir unir a palavra à ação, realização de poucos.
 
 
 
Fonte das imagens: Google
Fontes das pesquisas: www.releituras.com
                                        www.jornaldepoesia.jor.br/aromano.html
                                       
 
Por Aline Andra
 
  

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Invencível Planeta Terra

  

Fonte: Google 
 

Hoje é o "Dia Internacional do Planeta Terra".
Muito já se falou sobre o nosso Planeta Azul. Abrigo de milhões de espécies, incluindo os humanos, a Terra é o único corpo celeste onde é conhecida (por nós) a existência de vida. Ela própria se comporta como um grande ser vivo, com mecanismos que ajudam a preservar os outros seres vivos que nela existem segundo a “Teoria de Gaia”, do químico inglês James Lovelock. Ou seja, o planeta tem a capacidade de controlar as características que mantém o nosso lar doce lar confortável e com condições ideais para a existência de vida. Isso inclui os ajustes que nós chamamos de catástrofes naturais.
Mas, com toda a nossa humana petulância, já nos proclamamos destruidores ou salvadores de um sistema que para o bem e para o mal, segue suas misteriosas e autocráticas regras e leis independentemente de nossas contribuições. Convenhamos, este poderoso planeta se mantém à nossa revelia por mais de 4 bilhões de anos e, acredita-se, será capaz de nos suportar por mais 500 milhões de anos! Por isso, vou me abster de escrever sobre sustentabilidade, interatividade, periculosidade e outros “ades” da moda.
Como tenho sempre uma visão mais contemplativa, prefiro pensar nele como um belo e pequenino planeta que faz parte de um Todo, este sim, um Universo grandioso, desconhecido, imprevisível e que está muito, mas muito além de nossa vã sabedoria.
Então, por que não pensar em cidadania planetária?



 
 
 
 

 

Por Aline Andra

domingo, 21 de abril de 2013

Origami - A arte de dobrar papel


 

 
 
 
 Quem não fez, na infância, um aviãozinho de folha de caderno escolar para voar manhosamente em direção a um desafeto ou, quem sabe, tímido afeto, um barquinho para libertar em poças de água de chuva nunca dantes navegadas, um chapéu de soldado para lutar em guerras galopantes ou uma gaivota para fazer acrobacias incríveis em céus inexplorados?
Crianças brincando, que utilizavam sem saber, técnicas de uma prática secular: o Origami.
“Todo Origami começa quando colocamos as mãos em movimento. Há uma grande diferença entre compreender alguma coisa através da mente e conhecer a mesma coisa através do tato”. (Tomoko Fuse)
Origami é uma palavra japonesa composta do verbo dobrar (ori) e do substantivo papel (kami). Significa literalmente “dobrar papel”. Tradicionalmente a técnica do Origami exige que nada seja colado, cortado ou desenhado. Os registros sobre sua origem não são claros, embora exista a hipótese de que teria surgido na China desde que o papel foi inventado em 105 d.C por Ts'ai Lun, um oficial da corte, que obteve a primeira folha provavelmente triturando água com retalhos de seda, cascas de madeira e restos de rede de pescar para substituir a dispendiosa seda que se utilizava para escrever.
No Japão, o papel foi introduzido pelos monges budistas coreanos no ano de 610 e os japoneses desenvolveram a sua própria tecnologia usando fibras vegetais extraídas de plantas nativas.
Foram os samurais, no início do séc. 17, os responsáveis pela criação dos primeiros origamis que conhecemos atualmente. O mais interessante é que, ao contrário da visão infantilizada que se tem da tradição da dobradura de papel até o início do séc. 20, o Origami foi praticado como passatempo restrito aos adultos. O alto custo do papel deve ter sido uns dos motivos.
O registro mais antigo sobre dobraduras de papel está num poema de Ihara Saikaku datado de 1680 e as primeiras ilustrações de modelos, nas gravuras Ranma Zushiki, são de 1734. Inicialmente a prática da dobradura era restrita às cerimônias religiosas e festivas. Mais tarde, porém, o papel ficou mais abundante e os origamis tradicionais tornaram-se populares.
A garça japonesa ou tsuru, uma ave considerada sagrada, tornou-se o símbolo de felicidade e longevidade mais conhecido.
Segundo a cultura japonesa, aquele que fizer mil origamis de tsuru teria um pedido realizado, uma crença popularizada pela história de Sadako Sasaki, vítima do atentado nuclear de Hiroshima. A menina, com 2 anos, ainda viveu até os 12 anos quando já com leucemia (doença que abateu milhares de pessoas como consequência da radiação atômica) e hospitalizada, acreditou que se fizesse 1000 tsurus, ficaria curada. Só conseguiu fazer 644. Seus colegas de escola acabaram os restantes para homenagear a memória e pedido de Sadako. As 39 crianças conseguiram mobilizar mais de 3000 escolas no Japão e 9 de outros países e assim juntaram a quantia necessária para a construção do "Monumento das crianças à Paz" (1958), localizado no Parque da Paz, em Hiroshima. Todos os anos, milhares de pessoas visitam o memorial e depositam cadeias de tsurus dobrados em sua base. Cada um deles é uma oração e um desejo pela paz.


 

Até 1960, a técnica do origami era imutável e os modelos reproduzidos anonimamente eram transmitidos verbalmente de geração para geração.
Uchiyama Koko foi o primeiro a patentear suas criações. A partir daí, houve uma explosão de interesse por essa habilidade e duas vertentes surgiram: a da escola oriental, onde o fundamental é o talento natural do origamista, que conta com sua experiência, instinto e domínio do imprevisto e a da escola ocidental que se baseia no estudo matemático das dobras do papel, perseguindo a exatidão da forma e das proporções com auxílio, inclusive, de programas de computador mas focando também no aspecto artístico.
Atualmente, muitos origamistas são apreciados e reconhecidos no mundo inteiro, elevando o Origami ao status de Arte.
Admiro, principalmente, as obras de Hojyo Takashi, que consegue unir perfeitamente técnica e sensibilidade.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
 
 
 
 
 
 
 

Fontes das Imagens: Google
                                        www.comofazerorigami.com.br
                                        www2.ibb.unesp.br
                                        http://origami.gr.jp

 

 

Por Aline Andra
 
  

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Hair, o musical



 

 

 Ano: 1979 (EUA, Alemanha Ocidental)
Diretor: Milos Forman
Elenco: Treat Williams, Beverly D'Angelo, John Savage,
              Annie Golden, Dorsey Wright, Nicholas Ray

 

 Revi o filme Hair com uma grande expectativa. Tinha 21 anos quando o vi pela primeira vez e o tempo muda muitas opiniões e emoções, mas não me decepcionei (nem comigo, nem com o filme). Ainda senti a mesma provocação e admiração.
Considerado uma excelente adaptação do rock-musical do mesmo nome encenado na Broadway em 1967 e criado por James Rado, Gerome Ragni e Galt MacDermot – embora as duas versões partilhem algumas das canções e nomes de personagens, diferem em vários aspectos – a bela produção dirigida por Milos Forman (que também admiro por Um estranho no ninho e Amadeus) é um dos melhores retratos da contracultura hippie com seus aspectos mais sublimes e mais sórdidos e da revolução de costumes dos anos 60. Muitas de suas canções tornaram-se “hinos” dos movimentos populares anti-Guerra do Vietnã nos Estados Unidos.
O filme conta a história de Claude Hooper Bukowski (John Savage), um ingênuo rapaz (representante da América conservadora) de Oklahoma que foi convocado para a Guerra do Vietnã. Ao chegar a Nova Iorque para apresentar-se ao exército, encontra um grupo de hippies com conceitos nada convencionais sobre o comportamento social e adeptos do pacifismo. Convivendo com eles, Claude também se apaixona por Sheila (Beverly D'Angelo), uma jovem rica, entediada com os valores familiares que ela começa a questionar. George Berger (Treat Williams), o líder do grupo, é o oposto do jovem humilde do interior. Filho de burgueses tradicionais, inquieto e contestador, acolhe Claude e junto com seus amigos, tenta convencê-lo a destruir a carta de convocação e a entender os seus ideais de paz e amor através da vida comunitária desprendida das ideologias políticas. A orgia, o sexo livre, as drogas, a desestruturação da igreja e da família são os instrumentos para a afirmação desse novo mundo que querem implantar, como fica claro na primeira canção do musical “Chegou! Chegou a nova era”.
O final é surpreendente e trágico, mas o que lhe confere peso e verdade é a crítica amarga, enfática e não menos atual à sociedade e sobretudo ao governo, representado pela absurda Guerra do Vietnã. A mensagem é de que, inevitavelmente, o poder e a máquina governamental acabam por destruir a todos, mesmo aqueles que não compartilham de suas ideias.
Uma utopia? Certamente. A nova era não vingou e a luta de toda uma geração, apresentada na sua forma mais extremada e radical, os hippies, é agora uma página virada na história.
Mas, pelo menos, eles sonharam e tentaram, não é?
 
"O resto é silêncio".



 
 




Por Aline Andra
 
 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Viagem no tempo: e essa tal liberdade...


 

 
Estou lendo “História das Mulheres no Brasil” (Ed. Contexto), um livro de 680 páginas, escrito por vários historiadores e organizado por Mary Del Priore. Interessantíssimo! Uma viagem através dos tempos, analisando a trajetória das mulheres de todos os extratos sociais e em diferentes espaços do Brasil colonial aos nossos dias. Dá o que pensar...
Além disso, querendo dar continuidade ao post anterior, comecei a pesquisar sobre as pioneiras em diversas áreas. Aquelas famosas ou nem tanto, que deram a cara à tapa (muitas vezes, literalmente) para que pudéssemos, hoje, nos sentir tão independentes e donas de nossas escolhas. Depois de preencher cinco páginas com nomes conhecidos ou, para mim, desconhecidos, com suas conquistas e histórias, pensei nas anônimas. E concluí o que deveria ter sido óbvio desde o início. Foram tantas! Foram todas!
Entretanto, só se pode falar em reivindicações de direitos sob qualquer aspecto a partir do século 18. Datam dessa época, as primeiras atitudes e obras eloquentes.
Em 1792, na Inglaterra, Mary Wollstonecraft, não por acaso futura mãe de Mary Shelley, autora de “Frankenstein”, escreveu um dos clássicos da literatura feminista – “A reivindicação dos direitos da mulher” – onde defendia uma educação para meninas que aproveitasse seu potencial humano.
 
Mary Wollstonecraft

Essa luta ganhou impulso na virada do séc. 19, quando o primeiro momento foi motivado pelas reivindicações dos direitos democráticos como direito ao voto, divórcio, educação e trabalho. No contexto da Revolução Industrial, as ideologias socialistas se consolidaram, de modo que o feminismo se fortificou como um aliado do movimento operário, através de convenções, greves e passeatas.
 
 
 
No Brasil, em 1827, surgiu a primeira lei sobre educação das mulheres, permitindo que frequentassem as escolas elementares até então proibidas.
Nos Estados Unidos, em 1857, no dia 8 de março, 129 operárias de uma fábrica têxtil, morreram queimadas durante uma ação policial ao reivindicarem a redução da jornada de trabalho de 14 para 10 horas diárias e o direito a licença maternidade. Mais tarde, instituiu-se o Dia Internacional das Mulheres nesta data em homenagem a elas.
A partir de 1859, vários movimentos e associações surgiram na Rússia, Suécia, Alemanha, França e Japão reivindicando e conquistando a igualdade de direitos de voto e estudo em universidades até então  frequentadas somente por homens.
A Princesa Isabel, filha de Dom Pedro II, ao completar 25 anos em 1871, tornou-se a primeira senadora do Brasil. Durante viagem do Imperador, assumiu a regência e assinou a Lei do Ventre-Livre que estabeleceu liberdade aos filhos dos escravos. A Princesa aliou-se aos movimentos populares e aos partidários da abolição da escravatura, mas principalmente por razões político-econômicas, em 13 de maio de 1888, assinou a Lei Áurea que dizia: “A partir dessa data ficam libertos todos os escravos do Brasil".

 Princesa Isabel

 Em 1879, a brasileira Maria Augusta Generoso Estrella, com apenas 14 anos, mudou-se para os Estados Unidos a fim de estudar no Medical College and Hospital for Women. A banca de seleção a recusou por não ter a idade mínima do regulamento. Em discurso inflamado, ela convenceu os examinadores, terminou o curso e esperou até 1881, quando completou a maioridade para poder clinicar. Maria Augusta obteve sucesso na profissão atendendo mulheres e crianças.  Sua determinação foi fundamental para que o Imperador Dom Pedro II aprovasse a reforma no ensino superior, permitindo o ingresso das mulheres nas faculdades brasileiras.

Maria Augusta Generoso Estrella
 
  No Brasil, Chiquinha Gonzaga, compositora e pianista (compôs mais de 2000 canções populares, entre elas, a famosa marcha carnavalesca “Ô Abre Alas”) e autora de 77 peças teatrais, em 1885, tornou-se a primeira mulher a reger uma orquestra (a opereta “A corte na roça”).
 
Chiquinha Gonzaga

Em Portugal, no ano de 1891, Domitilla Hormizinda Miranda de Carvalho foi a primeira mulher a estudar e concluir, com boas classificações, os cursos de Matemática, Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra. Como condição para sua admissão, foi obrigada por exigência do reitor, a trajar-se sempre de preto e com chapéu discreto para não chamar a atenção.
 
Domitilla de Carvalho

No sec. 20, as mudanças foram acontecendo rapidamente e as mulheres ganharam maior visibilidade por causa das guerras, onde tiveram um papel fundamental, da mídia cada vez mais presente, dos livros e manifestos de sua autoria, na sua maior participação na política, nas artes e nas decisões familiares, atingindo seu ápice na década de 1960, que foi marcada por uma ampla revolução dos costumes e pela liberação sexual. Atitudes e comprometimentos demonstraram que a hierarquia entre os sexos não era uma fatalidade biológica, mas uma construção social.
Marie Curie, polonesa que exerceu sua atividade profissional na França,  foi uma pioneira, tanto por sua coragem e determinação como por suas descobertas científicas – descobriu dois novos elementos químicos: o rádio e o polônio  e fez importantes pesquisas no campo da radioatividade – e não só foi a primeira mulher a ganhar um prêmio Nobel, mas também a primeira pessoa a receber duas vezes essa condecoração. Em 1903, o de Física e em 1911, o de Química.
 
Marie Curie
 
 No Brasil, em 1917, Deolinda Daltro, professora, fundadora do Partido Republicano Feminino em 1910, liderou uma passeata exigindo a extensão do voto às mulheres.
 
Deolinda Daltro

Thereza de Marzo, brasileira, foi a primeira mulher a voar sozinha e a receber o diploma de piloto-aviador internacional em 1922. Ela também criou as “Tardes de Aviação”, nas quais efetuava seus voos com passageiros.
 
Theresa de Marzo

O primeiro voto feminino no Brasil (e na América Latina) foi em 25 de novembro de 1927 no Rio Grande do Norte. Quinze mulheres votaram, mas seus votos foram anulados no ano seguinte. Entretanto, a primeira prefeita da história do Brasil, Alzira Soriano de Souza, foi eleita no município de Lages – RN.
 
Alzira Soriano

No Brasil, o novo Código Eleitoral foi promulgado pelo presidente  Getúlio Vargas em 1932 e garantiu o direito de voto às mulheres casadas (com autorização do marido), viúvas ou solteiras com renda própria.
Também em 1932, a nadadora brasileira Maria Lenk, então com 17 anos, foi a primeira mulher a participar da delegação olímpica que viajou para Los Angeles.

Maria Lenk
 
 De 1937 a 1945, no Brasil, o Estado Novo criou o Decreto 3199 que proibia às mulheres a prática de esportes considerados incompatíveis com a condição feminina, tais como: “luta de qualquer natureza, futebol de salão, futebol de praia, polo, polo aquático, halterofilismo e beisebol”. 
 Em 1945, a Carta das Nações Unidas, um documento internacional, reconheceu a igualdade de direitos entre homens e mulheres.
Fanny Blankers Koen, da Holanda, mãe de duas crianças, superou todos os homens nas Olimpíadas, ao conquistar quatro medalhas de ouro no atletismo em 1948.
 
Fanny Blankers Koen

Em 1949, a francesa Simone de Beauvoir publicou o livro “O segundo sexo”, no qual analisava a condição feminina.
 
Simone de Beauvoir

 A Organização Internacional do Trabalho aprovou, em 1951, a igualdade de remuneração entre trabalho masculino e feminino para funções iguais.
Maria Esther Bueno, tenista brasileira, tornou-se a primeira mulher a vencer os quatro torneios do Grand Slam (Australian Open, Wimbledon, Roland Garros e US Open) em 1960. Conquistou, no total, 589 títulos em sua carreira.
 
Maria Esther Bueno

Em 1974, na Argentina, Isabel Perón tornou-se a primeira mulher a ocupar a presidência do país.
 
Isabel Perón

Em 1979, a equipe brasileira feminina de judô inscreveu-se com nomes de homens no campeonato sul americano da Argentina. Este fato teve como consequência a revogação do Decreto 3199.
Surgiu o lema “Quem ama, não mata” e a criação de centros de autodefesa para coibir a violência contra a mulher em 1980 no Brasil.
Em 1983, nos Estados Unidos, Sally Ride tornou-se a primeira mulher astronauta ao voar na nave espacial Challenger.
 
Sally Ride

Em 1985, foi implantada no Brasil, a primeira Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher – DEAM (SP) – e, em seguida, muitas outras em diversos estados.
Foi também aprovado pela Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei que criou o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.
Nélida Piñon foi a primeira mulher  a ser eleita para ocupar a presidência da Academia Brasileira de Letras em 1996.

Nélida Piñon
 
Entrando no séc. 21, em 2001, a alemã Jutta Kleinschmidt foi a primeira mulher a vencer o Rali Paris-Dakar, na categoria carros. Considerada a prova esportiva mais difícil do planeta (atravessar o deserto), Kleinschmidt provou a determinação feminina presente em todas as atividades do mundo atual.

 Jutta Kleinschmidt
 
Claro que estou me referindo a uma parte do mundo onde já se conseguia definir um padrão de vivência moldado na independência pessoal. A incompreensão ou impossibilidade de reação ainda é imensa em muitos lugares e classes sociais por diversos e discutíveis motivos.  Mas, sim, podemos bater no peito, agora confortáveis dentro de sutiãs anatômicos depois de superarmos a fase irreverente da queima dos ditos e afirmarmos com orgulho que as mudanças foram avassaladoras. A luta de todas as mulheres corajosas do passado deixou-nos um legado irrefutável: a Liberdade ou, pelo menos, o direito de exigi-la para a maioria. Será?
Por que, então, tenho a impressão de que algo foi perdido ou desperdiçado nesse processo?
De que alguma coisa, nas entrelinhas dessa história, não foi percebida ou não está sendo conscientemente admitida?
Por que sinto que mulheres (e homens) não estão mais felizes, apenas mais sobrecarregados e reféns de um mundo cada vez mais confuso, intolerante e injusto?
Por que, mulheres bem resolvidas e bem sucedidas criaram filhos, descendentes dessas conquistadoras, que estão por aí, impermeáveis e sem ideais?
Por que os saudáveis valores humanos na sua essência (independente do sexo) foram relegados ao segundo plano em prol da busca por gratificações tão superficiais, exigentes, materialistas e equivocadas?
Por que as mulheres, diante de tantos fatos e exemplos grandiosos, ainda confundem liberdade com vulgaridade? E não vale culpar a mídia. Já provamos nossa inteligência.
Por que depois de séculos em que mulheres determinadas, com suas belas histórias, escolheram e conseguiram, usando as mesmas armas dos homens (talvez tenha sido esse o erro) imporem-se decisivamente nessa guerra de sexos, nós não conseguimos construir um mundo melhor?
Ou conseguimos?
Perguntas que me faço...





Fontes das imagens: Google
Fontes das pesquisas: http://quadrodemulheres.blogspot.com.br
                                        www.ibge.gov.br
                                        www.invivo.fiocruz.br
                                        www.brasil.gov.br



Por Aline Andra
   

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Viagem no tempo: Ah! essas mulheres...




 
 
 
 
 
 
 
  
 
 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
  
 
 
 
 
 
  
 
 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fontes das imagens: www.widelec.org
                                   www.retronaut.com   
 
 
 
 
Por Aline Andra