segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Viagem no tempo: femininas revoluções - parte 2




A mãe que brinca alegremente com o filho na praia – 1950



Mulheres afegãs em uma biblioteca pública antes do regime Talibã tomar o poder - 1950





Erika, húngara de quinze anos de idade, que lutou pela liberdade contra a União Soviética - 1956




A ativista pelos Direitos Humanos Annie Lumpkins na cadeia de Little Rock – 1961



Kathrine Switzer torna-se a primeira mulher a correr a Maratona de Boston, apesar das tentativas de detê-la – 1967



O movimento pelas Libertação das Mulheres em Detroit (EUA) – 1970




Uma policial em Los Angeles (EUA) cuidando de um bebê abandonado – 1971



Jeanne Manford marcha com seu filho gay durante a Parada do Orgulho – 1972




Ellen O’Neal, uma das primeiras skatistas profissionais – 1976





Elspeth Beard durante sua tentativa de se tornar a primeira mulher inglesa a circunavegar o mundo de motocicleta numa viagem de três anos – 1980


 

Anna Fischer, a primeira “mãe no espaço” – 1980



Uma mulher sueca batendo em um manifestante neonazista com sua bolsa. Ela teria sido uma sobrevivente de um campo de concentração – 1985



Armênia de cento e seis anos protegendo sua casa com uma AK47 – 1990




Sim, incontáveis mulheres de gerações passadas se empenharam por uma mudança em suas vidas, pelo reconhecimento de suas capacidades e desejo de realização fora do lar e longe do jugo masculino. Consequentemente, essas vitórias passaram a ser de todas. E foram tantos os desdobramentos bem sucedidos desses gestos, atitudes individuais ou movimentos coletivos que sinto que um limite deixou de ser respeitado. Há algo de confuso e nebuloso entre o céu e a terra.
Disse Mary Del Priore, escritora e historiadora que muito admiro, em entrevista à revista Isto é:
“O diagnóstico das revoluções femininas do século XX é ambíguo. Ele aponta para conquistas, mas também para armadilhas. No campo da aparência, da sexualidade, do trabalho e da família houve benefícios, mas também frustrações. A tirania da perfeição física empurrou a mulher não para a busca de uma identidade, mas de uma identificação. Ela precisa se identificar com o que vê na mídia. A revolução sexual eclipsou-se diante dos riscos da Aids. A profissionalização, se trouxe independência, também acarretou stress, fadiga e exaustão. A desestruturação familiar onerou os dependentes mais indefesos, os filhos.”
“Ocupando cada vez mais postos de trabalho, a mulher se vê na obrigação de buscar o equilíbrio entre o público e o privado. A tarefa não é fácil. O modelo que lhe foi oferecido era o masculino. Mas a executiva de saias não deu certo. São inúmeros os sacrifícios e as dificuldades da mulher quando ela concilia seus papéis familiares e profissionais. Ela é obrigada a utilizar estratégias complicadas para dar conta do que os sociólogos chamam de “dobradinha infernal”. A carga mental, o trabalho doméstico e a educação dos filhos são mais pesados para ela do que para ele. Ao investir na carreira, ela hipoteca sua vida familiar ou sacrifica seu tempo livre para o prazer. Depressão e isolamento se combinam num coquetel regado a botox.”
“No decorrer deste século, a brasileira se despiu. O nu, na tevê, nas revistas e nas praias incentivou o corpo a se desvelar em público. A solução foi cobri-lo de creme, colágeno e silicone. O corpo se tornou fonte inesgotável de ansiedade e frustração. Diferentemente de nossas avós, não nos preocupamos mais em salvar nossas almas, mas em salvar nossos corpos da rejeição social. Nosso tormento não é o fogo do inferno, mas a balança e o espelho. É uma nova forma de submissão feminina. Não em relação aos pais, irmãos, maridos ou chefes, mas à mídia. Não vemos mulheres liberadas se submeterem a regimes drásticos para caber no tamanho 38? Não as vemos se desfigurar com as sucessivas cirurgias plásticas, se negando a envelhecer com serenidade? Se as mulheres orientais ficam trancadas em haréns, as ocidentais têm outra prisão: a imagem.”
“As mulheres brasileiras estão adormecidas. Falta-lhes uma agenda que as arranque da apatia. O problema é que a vida está cada vez mais difícil. Trabalha-se muito, ganha-se pouco, peleja-se contra os cabelos brancos e as rugas, enfrentam-se problemas com filhos ou com netos. Esgrima-se contra a solidão, a depressão, as dores físicas e espirituais. A guerreira de outrora hoje vive uma luta miúda e cansativa: a da sobrevivência. Vai longe o tempo em que as mulheres desciam às ruas. Hoje, chega a doer imaginar que a maior parte de nós passa o tempo lutando contra a balança, nas academias.”
“Em países onde tais questões foram discutidas, a resposta veio como proposta para o século XXI: uma nova ética para a mulher, baseada em valores absolutamente femininos. De Mary Wollstonecraft, no século XVIII, a Simone de Beauvoir, nos anos 50, o objetivo do feminismo foi provar que as mulheres são como homens e devem se beneficiar de direitos iguais. Todavia, no final deste milênio, inúmeras vozes se levantaram para denunciar o conteúdo abstrato e falso dessas ideias, que nunca levaram em conta as diferenças concretas entre os sexos. Para lutar contra a subordinação feminina, essa nova ética considera que não se devem adotar os valores masculinos para se parecer com os homens. Mas que, ao contrário, deve-se repensar e valorizar os interesses e as virtudes femininas. Equilibrar o público e o privado, a liberdade individual, controlar o hedonismo e os desejos, contornar o vazio da pós-modernidade, evitar o cinismo e a ironia diante da vida política. Enfim, as mulheres têm uma agenda complexa. Mas, se não for cumprida, seguiremos apenas modernas. Sem, de fato, entrar na modernidade.”








Fonte das imagens: http://news.distractify.com












Por Aline Andra
 


Um comentário:

  1. Como todos os seus trabalhos ..... interessante e ilustrativo .... Namastê

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