terça-feira, 22 de julho de 2014

Um doce olhar (Bal)







Ano: 2010 (Turquia, Alemanha)
Diretor: Semih Kaplanoglu
Atores: Bora Altas, Erdal Besikçioglu, Tülin Özen, Alev Uçarer

 

Quem prefere filmes com boas doses de ação e grandiloquência (incluindo trilhas sonoras que, muitas vezes, somam um valor considerável) talvez não goste de Um doce olhar cujo título original significa Mel em turco.
Achei-o perfeito, uma proposta ousada do diretor na sua intenção de oferecer uma obra contemplativa e lenta, cheia de significados que somente uma apreciação tranquila e doce (por favor, não confunda com pieguice) consegue captar.
Esta é uma história de pessoas simples e com todos os sentidos preservados e aguçados como só aquelas que vivem em meio à natureza ainda possuem.
E assim é Yusuf (o encantador Bora Altas), um menino de seis anos que vive com seu pai Yakup (Erdal Besikçioglu), apicultor que vagueia pela floresta à procura de colmeias e sua mãe Zehra (Tülin Özen), plantadora de chá, numa província cercada de montanhas no norte da Turquia. Arredio e introvertido, Yusuf sente, principalmente na escola, a grande dificuldade de comunicação de todos os tímidos a ponto de sofrer crises de ansiedade que provocam gagueira na hora da leitura ou de necessitar isolar-se na hora do recreio.
Seu silêncio, entretanto, não deve ser associado com apatia. Ao contrário, ele entende e reage ao mundo que vai descobrindo com sensibilidade e discernimento. E encontra ao seu redor, um rico material para observação e aprendizado. Desde os prosaicos sons exteriores que são, propositalmente, a única trilha sonora do filme como o vento nas folhas das árvores, a terra e a lama sendo pisadas, os ruídos dos animais, os galhos caindo, a água em correnteza e tantos outros que dominam a cena quando realmente ouvidos até os barulhos e movimentos do cotidiano de uma casa como o crepitar do fogo, sua mãe trabalhando na cozinha, o sininho que ele carrega preso em si mesmo ou a lua cheia refletida na água. Tudo é relevante e digno de atenção.
Apesar de amado por todos, ele encontra a cumplicidade no pai que, intuitivamente, o deixa à vontade para expressar-se a seu modo. Suas conversas são tão íntimas que devem ser sussurradas como segredos que não devem ser espalhados assim como os sonhos. E o conforto, ele encontra na misteriosa floresta, o lugar que o acolhe quando a vida se apresenta como um susto e uma perda irreparável.
Bal é um filme que provoca uma sensação de sonolência ou adormecimento, não por ser enfadonho como ouvi de alguns, mas por ser apaziguador. Como em seu final.
A fotografia é de uma beleza especial. Com poucos movimentos de câmera, algumas imagens com enquadramentos perfeitos de luz e sombra lembraram-me realmente os quadros do pintor holandês Vermeer.
Vale destacar que o filme ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim e é o terceiro de uma série, embora completo em si. Os outros dois longas são Süt (Leite) de 2008 e Yumurta (Ovo) de 2007. A trilogia conta, em retrospectiva, a vida de Yusuf da idade adulta à infância.
 






Por Aline Andra


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