Diretor: Adolfo Aristarain
Atores: Federico Luppi, Mercedes Sampietro, Arturo Puig, Carlos Santamaría
No início dos anos
2000, com a Argentina devastada pela crise econômica pós-política do presidente
Carlos Menem, Fernando Robles (Federico Luppi) é um professor de Literatura
numa universidade de Buenos Aires e crítico literário. Com convicções
humanistas e iluministas, ele tenta provocar em seus alunos a necessidade
de questionar, usar a Razão para tornar-se consciente de um mundo que sobrevive
no caos e na desordem.
Casado com Lili
(Mercedes Sampietro), uma assistente social que também sente no seu trabalho as
consequências da crise do país, ele sofre o baque de ser obrigado - por decreto
- a se aposentar. A partir daí, não só passará a receber uma remuneração muito
aquém das despesas e necessidades do casal, como se sente compelido ao limiar
da “velhice”, com toda a falta de expectativa que isso implica. Fernando entra
em depressão e desabafa em seu caderno de apontamentos e pequenas crônicas, seu
sentimento de derrota pessoal e do que acredita.
“Eu sei que existe a desordem, a decepção e a
desarmonia. Existe um país nos destruindo, um mundo que nos expulsa, um
assassino impreciso que nos mata dia após dia, sem que percebamos. Não tenho
uma resposta. Escrevo do caos, da mais completa escuridão.”
Enquanto fazem uma
viagem de férias a Madri, onde já moraram durante o exílio em plena
ditadura militar, para visitar o filho Pedro (Carlos Santamaría), com quem Fernando está em choque por
sentir que fracassara na sua educação ao vê-lo abandonar uma promissora carreira
literária e o seu país, buscando estabilidade financeira na Espanha e tomando
decisões previsíveis e padronizadas, o casal entende mais precisamente sua condição de "estrangeiros" em qualquer lugar.
Com a ajuda de um
amigo, vendem o apartamento onde sempre viveram e compram uma chácara no sul da
Argentina. Buscando uma solução financeira, começam a plantar lavanda para
destilar a essência e importar para produtores europeus de perfumes. Numa
alusão à Revolução Francesa, Fernando pinta numa placa branca, vermelha e azul,
o nome do lugar: “1789”. Colocando em prática suas ideias e crenças
(Liberdade, Igualdade e Fraternidade) e percebendo a felicidade de Lili, ele
sente a esperança e o inconformismo se reacenderem.
Lindo retrato intimista
da reinvenção de um casal desiludido, no momento em que só tem um ao outro.
Em minha opinião, um
ótimo filme – quase um manifesto – onde brilham não somente atores e diretor,
mas também uma trama bem urdida e diálogos inteligentes e sem sentimentalismos.
Por Aline Andra
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