Sensualidade e
exotismo são conceitos parceiros há muito tempo. No Oriente, são sintetizados
pelas gueixas. Representantes de uma tradição milenar, são cercadas de uma aura
romântica – e muitas vezes equivocada (como veremos mais adiante) – que as
torna misteriosas e fascinantes e mostra-nos uma cultura e uma parte do passado
que, ainda hoje, provoca curiosidade e admiração.
Em português, a
grafia é gueixa. Em japonês, a palavra é geisha
com a mesma pronúncia e significa “pessoa de artes”.
O surgimento das gueixas está estreitamente relacionado com a maneira pela qual a sociedade japonesa foi organizada a partir do séc. XVII. O governo dos xóguns da família Tokugawa, também conhecido como a Era Edo (1603-1867), tomou crescentes medidas de controle da vida civil. O objetivo era não só manter a estabilidade interna, mas também dar uma forma feudal e hierarquizada à sociedade como um todo, com o intuito de garantir o poder. Influências externas como o Cristianismo eram vistas como desestabilizadoras e subversivas. Assim, em 1673, um édito do xogunato ordenou o fechamento dos portos às potências ocidentais, impedindo o comércio com navios europeus (exceto os da Cia. Das Índias, que eram tolerados porque não misturavam religião e comércio) e a expulsão dos estrangeiros, impondo um isolamento ao Japão que durou dois séculos.
O surgimento das gueixas está estreitamente relacionado com a maneira pela qual a sociedade japonesa foi organizada a partir do séc. XVII. O governo dos xóguns da família Tokugawa, também conhecido como a Era Edo (1603-1867), tomou crescentes medidas de controle da vida civil. O objetivo era não só manter a estabilidade interna, mas também dar uma forma feudal e hierarquizada à sociedade como um todo, com o intuito de garantir o poder. Influências externas como o Cristianismo eram vistas como desestabilizadoras e subversivas. Assim, em 1673, um édito do xogunato ordenou o fechamento dos portos às potências ocidentais, impedindo o comércio com navios europeus (exceto os da Cia. Das Índias, que eram tolerados porque não misturavam religião e comércio) e a expulsão dos estrangeiros, impondo um isolamento ao Japão que durou dois séculos.
O controle do
governo sobre a sociedade atingiu principalmente as mulheres. Excluídas da vida
pública, sem voz ativa, obrigadas a casamentos impostos pelas famílias, só lhes
restou os papéis de mãe, esposa e dona de casa e não havia profissão que
pudessem exercer a não ser na condição de auxiliares dos maridos na agricultura
e no comércio.
Segundo a enciclopédia
Kondasha, os primeiros registros da
palavra geisha datam de 1750 e o
termo foi originalmente usado para designar comediantes e músicos do sexo
masculino que se apresentavam em banquetes particulares. Foi nesse contexto que
surgiram as onna-geishas, gueixas do sexo feminino. Já que o teatro também passara a ser proibido às mulheres, as festas privadas tornaram-se os únicos lugares onde elas podiam tocar música, dançar e cantar. Por volta de 1780, ainda existiam otoko-geishas (homens), mas as mulheres
já eram esmagadora maioria na profissão e, no início do séc. XIX, gueixas eram
invariavelmente mulheres.
Com paz interna, a
vida no Japão floresceu graças ao sankin-kõtai
(presença alternada), sistema criado em 1635 pelo governo, que obrigava os
senhores feudais das províncias e seus samurais a morar em Edo (atual Tóquio)
por alguns meses. Vilas e cidades se prepararam para fornecer produtos e
serviços aos viajantes e o comércio prosperou. Um
ambiente de refinamento cultural foi estimulado. Artes como Ikebana (arranjos florais) e a Sadoh (cerimônia do chá) se
consolidaram e o entretenimento se sofisticou, criando um cenário perfeito para o desempenho das gueixas.
A maquiagem, o
cabelo, o vestuário e os modos de uma gueixa eram calculados para alimentar a
fantasia masculina de perfeição feminina. Elas eram treinadas para fazer com
que os homens se sentissem superiores e atraentes e eles pagavam muito caro
para ter uma gueixa atendendo aos seus caprichos. Uma verdadeira gueixa era, e
ainda é, bem sucedida quando reflete a
ideia de uma perfeição inatingível.
Enquanto as esposas
não tinham vida social, as gueixas eram as mulheres que exerciam o papel de
cultas e belas anfitriãs em uma reunião de negócios, por exemplo.
Também é falsa a
imagem – bastante comum para os ocidentais – de que elas eram o estereótipo da
mulher submissa. Na verdade, as gueixas eram as únicas mulheres do Japão com
uma existência independente e eram responsáveis por suas carreiras, sem
as cobranças e preocupações familiares e domésticas das mulheres comuns. Outra
peculiaridade era o fato de poderem ter filhos e serem privilegiadas somente as
do sexo feminino, ao contrário do costume vigente. Filhas eram candidatas em potencial a futuras gueixas. Crianças do sexo masculino estavam fadadas a papéis secundários dentro das okiyas, como motoristas por exemplo.
As aprendizes (maiko) eram crianças, em torno dos 6 anos,
consideradas especiais pela inteligência e/ou rara beleza. Muitas dessas
crianças eram vendidas por suas famílias e o passado ficava para trás. Elas
ingressavam nas okiyas (casas de
gueixas) e, a partir daí, passavam a ter outra “família”. A okaasan (a dona da okiya) assumia o papel de mãe e as outras gueixas, o de irmãs. Uma onesan, uma gueixa formada era
escolhida para ser sua mentora. Seu nome era mudado para uma derivação do nome
da onesan e havia uma cerimônia que
estabelecia o elo entre elas. Cada uma tomava três goles de três copos de
saquê.
As
maikos começavam o aprendizado fazendo trabalhos domésticos como limpeza
das casas, lavagem das indumentárias, etc., para depois, quando adolescentes,
iniciarem seu rigoroso treinamento numa escola especial (Kaburenjo). Por um período mínimo de 5 anos, as meninas deveriam
aprender as artes da dança tradicional japonesa (nihon-buyoh), canto, música (o
shamisen, um instrumento de três cordas; o shimedaiko, um pequeno tambor; o
koto, uma espécie de cítara e o fue, um tipo de flauta), pintura,
caligrafia, dicção, etiqueta, acrobacia, interpretação teatral, a preparação da
cerimônia do chá, o domínio de diversas línguas e até política internacional.
Uma gueixa podia ser especialista em apenas uma forma de arte, como canto ou
dança, mas precisava ter proficiência em todas elas. Entretanto, o que mais
chamava a atenção era a beleza de seus gestos e seu modo de falar.
Espontaneidade não era uma característica de uma maiko. Um dos talentos de uma gueixa deveria ser, e ainda é,
transformar o trivial, como um simples movimento de mãos, em arte.
Além de toda a
formação intelectual, elas tinham que ter uma aparência impecável: vestiam
quimonos cheios de adornos e que pesavam muitos quilos, aprendiam a arte do oshiroi, a pesada maquiagem e produziam
a tinta branca (que continha chumbo, um componente venenoso) usada para pintar
o rosto, pescoço e parte do tórax, ritual que consumia uma hora diária. Parte do pescoço - região considerada de extrema sensualidade pelos japoneses - era deixada à mostra como forma de provocação. Outro
detalhe que as diferenciava era o batom vermelho que era usado somente no lábio
inferior. Calçavam tamancos de madeira (zori)
e levavam horas fazendo o penteado que deveria seguir cinco estilos diferentes.
Uma maiko iniciante usava um penteado
com duas fitas vermelhas que indicavam sua inocência. Essa mudança era
determinada pela primeira experiência sexual. Para manter o cabelo
perfeitamente arrumado, dormiam sobre travesseiros de madeira e tinham que estar
sempre alegres e com postura delicada.
Uma aprendiz tinha a
obrigação de passar vários anos estudando o comportamento de sua mentora para
aprender as habilidades que eram adquiridas somente com a experiência. Sua onesan a levava para festas e elas
deveriam permanecer quietas e somente observar. Todavia, sua presença não era
apenas um aprendizado. O trabalho de sua irmã mais velha era introduzir a maiko na sociedade, tornando-a
conhecida. Ter namorado ou relacionamento com qualquer cliente, nesta fase, estava fora de questão.
Quando suas
habilidades já eram consideradas suficientemente maduras, a jovem gueixa
ganhava o status de geiko (mulher da
arte), o que acontecia entre os 20 e os 23 anos. Enquanto maiko, a gueixa usava quimono de cauda e obi (faixa da cintura) largo em cascata nas costas, sempre com
colarinho estampado ou colorido, maquiagem muito branca e um grande penteado
com pente de casco de tartaruga, flores e pingentes metálicos. Ao se tornar uma
geiko, ela passava a usar colarinho
branco, quimonos mais discretos e penteados mais simples, ganhando uma
aparência mais adulta e elegante. A cerimônia na qual a gueixa aprendiz passava a ser considerada experiente chamava-se erikae (mudança de colarinho). Isso
também implicava em novas responsabilidades para a geiko em relação à okiya.
A gueixa pagava um percentual de seus ganhos para manter a casa e dar suporte
às pessoas sem renda que viviam nela, como as aprendizes, as gueixas
aposentadas e as empregadas. Com isso, ela também pagava todo o alto investimento
feito pela okaasan na sua formação.
As casas onde viviam, muitas vezes,
eram sustentadas por um homem rico – o danna (patrono). Para ele, era um símbolo de status. Geralmente ele possuía uma gueixa como amante (ou, mais raramente, como esposa), mas o fato
delas terem contato íntimo com algum homem não era costumeiro. Quando o danna escolhia sua preferida, devia negociar uma quantia à título de compensação para a okaasan pela educação e hospedagem. Se o danna concordasse com as exigências, a gueixa tornava-se independente da okiya, embora, pudesse continuar a atuar em festas e casas de chá escolhidas e agendadas por ela. Entretanto, tal relação deveria permanecer secreta. Se a gueixa identificasse o seu danna, era renegada pela comunidade. Se ela tivesse filhos, ele não tinha a obrigação de assumir a responsabilidade como pai, a não ser garantir o sustento da criança.
Suas atividades
consistiam em serem contratadas sob um código de ética rigoroso que exigia, inclusive,
a confidencialidade, para entretenimento e atração em festas, reuniões e
jantares. O objetivo – e para isso foram treinadas à perfeição – era tornar
qualquer evento um sucesso, tratar seus clientes muito bem, descontraí-los com piadas, assuntos amenos e jogos de salão, proporcionando
momentos de prazer e boas conversas. Precisavam estar sempre em movimento, certificando-se de que seus convidados estavam plenamente satisfeitos com a comida, a bebida e completamente à vontade. As gueixas deveriam aprender, desde cedo, a dominar não só as peculiaridades do serviço para o qual eram pagas, mas também as próprias emoções. Não se sentavam à mesa, a não ser quando solicitadas, nunca faziam refeições junto com os clientes e deviam saber, com delicadeza, rechaçar propostas ou comportamentos impróprios. Carismáticas e sedutoras, elas sabiam como conduzir os clientes para o seu mundo de fantasia e um dos segredos era manter a postura sem deixá-los contrariados.
Dinheiro nunca era
mencionado durante os eventos ou estadas nas casas de chá (ochaya). Cada momento com gueixas custava uma
fortuna. O tempo de serviço era marcado com a ajuda de um incenso que queimava
em duas horas.
Era um mundo privado e requintado, mas um privilégio para poucos.
Um dos exemplos mais
conhecidos de gueixa que alcançou enorme reconhecimento e fama é o de Mineko
Iwasaki. Ainda criança, foi adotada pela renomada okiya Iwasaki, do bairro de Gion em Kyoto, e foi educada para ser a
herdeira e sucessora da casa. Aos 29 anos, aposentou-se no auge da carreira,
para ter sua própria vida.
O livro de Arthur
Golden, “Memórias de uma gueixa”, adaptado em belo filme do diretor Rob
Marshall, foi inspirado em sua história. Ela, porém, não satisfeita com algumas
descaracterizações feitas no filme, decidiu escrever sua autobiografia, “Gueixa”,
em 2002.
Fontes das imagens e
pesquisas: www.culturajaponesa.com.br
Por Aline Andra
ResponderExcluirVc. é demais !!!!! Que pesquisa maravilhosa !!!!
Apesar de sempre ler sobre a cultura japonesa aprendi
muito .
Continue assim por favor !!!!!
NAMASTÊ