Ano: 1969 (EUA)
Diretor: Sidney Pollack
Atores: Jane Fonda, Michael Sarrazin, Susannah York, Gig Young, Red Buttons, Bonnie Bedelia, Bruce Dern
Achei apropriado comentar sobre “A noite dos desesperados” (a tradução do título foi, como quase sempre, pouco original) do competente diretor Sidney Pollack, dando continuidade ao tema do post anterior sobre as maratonas de dança nos anos 30.
Vi o filme pela primeira vez ainda muito jovem e cheia de certezas (como todos os jovens). Achei-o muito bizarro e perturbador. Agora, já não tão jovem e com menos certezas, acho-o terrivelmente comovente e verdadeiro.
Um retrato perfeito do turbulento e sofrido período da Grande Depressão americana, o filme - baseado no livro homônimo de Horace Mccoy, publicado em 1935 - conta-nos a história de diversos casais participando de uma maratona de dança. O argumento inteligentemente elaborado mostra com realismo como os concorrentes ao prêmio de 1500 dólares, com seus motivos e dramas pessoais, vão se desgastando em todos os sentidos à medida que continuam dançando por dias seguidos, o que também vai revelando a personalidade dos personagens.
Como cada um lida com esse ataque destrutivo sobre a resistência física e emocional – que não deixa de ser uma analogia ao ataque igualmente destrutivo dos acontecimentos políticos, econômicos e sociais que assolaram a estabilidade e os sonhos de uma geração – é o grande trunfo do filme e da história.
Jane Fonda (no seu primeiro papel dramático) brilha como Gloria Beatty, determinada, amarga e desiludida e que vai perdendo a vontade de competir e de viver num mundo intolerante e cruel. Michael Sarrazin como Robert convence interpretando o jovem apático, com uma indolência causada pela pobreza e a falta de perspectiva tão comum na época, mas que no final tem a atitude decisiva e, a meu ver, cheia de compaixão e lucidez. Gig Young mereceu o Oscar de melhor ator coadjuvante do ano como o apresentador Rocky, cínico e realista e Susannah York surpreende com sua comovente Alice que vai se desconstruindo na medida em que vai se fragilizando.
A propósito, o título original que pode ser traduzido livremente para “Eles atiram em cavalos, não atiram?” - a frase final de Robert - é uma metáfora belamente construída e coerente com o enredo porque se refere ao sacrifício de cavalos feridos quando eles não tem cura, para que não sofram mais.
Um filme impiedoso como devem ser todas as obras que buscam instigar a reflexão.
Frase de Rocky: “Isto não é concurso, é show. As pessoas não estão nem aí para o vencedor. Querem ver um pouco de sofrimento para que se sintam melhor.”
Por Aline
Andra
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